O homem que sabia decidir
Em uma cidadezinha bem distante, chamada Duvidópolis. Nela, havia um
homem alto e imponente. Nessa cidadezinha, as pessoas eram bem
tranquilas até que surgisse uma dúvida. Pronto! Era um caos na cidade.
Os duvidenses não sabiam o que fazer, não conseguiam se decidir,
ficavam totalmente perdidos. Com exceção desse homem, que continuava
tranquilo, sem muito se preocupar (vai ver não era da cidade).
Certa vez, houve uma bagunça na cidade. Havia surgido uma grande
dúvida e não sabiam de maneira alguma como resolvê-la. Eis o problema:
o senhor prefeito, ainda muito jovem - tinha apenas 23 anos de idade -
tinha acabado de falecer. Como era muito jovem e não era casado, não
tinha filhos. Ora, em Duvidópolis, como não conseguiam se decidir por
nada, não havia eleição para o governante da cidade, simplesmente, o
filho do prefeito assumia o cargo do pai, e isso acontecia desde à
fundação, portanto, eram todos descendentes do Sr. Duvideu Duvidão
Duvido.
O caos não passava. Ia se prolongando já por vários dias, até que
esse homem alto foi à prefeitura, assinou o livro de ata e assumiu o
cargo de prefeito. Afinal de contas, em terra de cego quem tem olho é
rei. O problema fora resolvido. A bagunça terminou. Todos voltaram para
sua vida normal.
Como era um homem que sabia decidir, a cidade mudou, não mais
ficou estagnada. Começou a se desenvolver, a crescer, até que se tornou
um grande centro econômico, uma referência na região. Após muitos anos
de governo, eis que surge um novo problema. O que fazer? Calma, é só
perguntar para o senhor prefeito.
Marcam uma audiência e encontram-se com o senhor prefeito. Perguntam-lhe:
- Senhor prefeito, um novo problema, uma nova dúvida surge na
cidade, e não sabemos o que fazer. Então resolvemos perguntar ao
senhor. Aqui está: como é o seu nome e de onde o senhor veio?
O prefeito alto e imponente responde:
- Eu vou.
Estagnados, olham-se sem entender.
- Como, senhor prefeito?
- A primeira alternativa.
- Como assim, a primeira alternativa?!?! Dessa vez não lhe demos
nenhuma opção para escolher. Simplesmente queremos saber o seu nome e
de onde o senhor veio.
- A primeira alternativa, com certeza, a primeira alternativa!
- Como assim? Não conseguimos entender.
- Até logo. Voltem quando precisar. Estou à disposição.
Vão embora sem nada entender. O caos se instala novamente, mas
logo passa, porque depois de alguns dias ninguém mais se preocupava em
saber o nome do prefeito e de onde ele viera.
Os anos passam, a vida continua, e o prefeito, alto e imponente,
envelhece, fica doente e morre. Mas, sem problemas dessa vez, pois ele
havia casado com Dona Duvidéia e deixado um filho, que assumiu o seu
lugar na prefeitura.
Ao mexerem no corpo para o arrumarem para o velório e o enterro,
cai-lhe um envelope do bolso. Abrem o envelope e lá está, sua carteira
de identidade. Uma dúvida de vários anos atrás, já esquecida, pode,
finalmente, ser resolvida. O homem alto e imponente, prefeito da
cidade, chamava-se Decisão Pronta, da cidade de Decididos. Agora
entendem porque ele era tão diferente e só escolhia a primeira
alternativa.
A cidade, em paz, hoje está nas mãos de um governante sábio, filho
do Sr. Decisão Pronta e da Dona Duvidéia. O prefeito chama-se Decisório
Duvidoso Pensante. Tudo o que ele vai decidir reflete bem antes de dar
a última palavra, pois é isso que devem fazer os que tratam de coisas
importantes: pensar bem antes de agir.
José Rodolfo Galvão dos Santos,
Fonte: http://www.mundojovem.pucrs.br/cronica-o-homem-que-sabia-decidir.php
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